Minha irmã diz que chefe não precisa ser bajulado; secretária, sim. Com razão. Arrastar-se pelo chão onde o patrãozinho pisa arrasta junto reputações, caras, amores-próprios. Não pega bem para ninguém e ainda acaba irritando o suposto paparicado, que, se for chefe worth having, vai ter horror a funcionário com fetiche de ser tapete (não tem horror? demita-se. O sujeito anda considerando a ideia de um tapete humano – e, quando se decidir a gostar dela, vai que é você passando no corredor?). Secretária é o oposto: quanto mais se enche de mimo, mais cedo fica pronto o passaporte para o nirvana profissional. Quanto maior a grosseria, maior a chance de seu currículo acordar, certa manhã, com a boca cheia de formiga.
Secretária conhece seu CPF, RG, endereço, agenda, declaração de rendimentos, brigas com a mulher, nome dos pais, aniversário dos filhos. Sorte sua que é gente de confiança. Merecia férias em Paris todo ano só por ser guardiã soberana de suas discrições. Não bastante, a fofa sabe direitinho a desculpa que funciona para despachar telefonema de ex, adivinha quando é cliente ligando e bota purpurina na voz, conversa aveludadamente com o responsável do bistrô para arrumar reserva pra anteontem, tem as medidas de sua mulher e a banda preferida de sua filha anotadas no caderninho. Secretária feliz agiliza sua xerox, apressa o café, avisa antes sobre a reunião, mente para sua sogra que você continua em reunião, entrega a informação cheirando a pão quente. É ou não é para ser tratada a champanhe e Ferrero Rocher todo santo dia?
Na falta de todo santo dia, aproveite hoje. Insuficiente; mas melhor que nada. Venere o Dia da Secretária como o daquela que recebeu a saborosa missão de abrir caminhos, ir à frente da bandeira esfaqueando obstáculos, aplainar veredas como um João Batista particular. Beije (respeitosamente) as mãos que digitam memorandos, providenciam respostas, encaminham circulares, resolvem a chatice das atas sem que você precise pensar mais do que na melhor caneta para a assinatura. Beije-lhe as santas mãos. Encha-a das tulipas espetaculares e dos bombons trufados que, espera-se, ela não comprou.
E trate de ser um bom menino nos outros 364 espaços da agenda. Ela vê o que você faz. Ela sabe quem você é. E não tem fetiche de ser tapete. Depois de dormir na varanda por haver esquecido o níver de casamento – e depois de não compensar a burrada porque o bistrô da moda está im-pos-sí-vel de marcar –, não diga que eu não avisei.