terça-feira, 22 de novembro de 2011

Por favor, pare agora

Em alguns lugares, hoje é o Stop the Violence Day – dia, em tradução óbvia, de dar cabo da violência. Hiperapoio. Inclusive nunca consegui entender um planeta movido a tapas, socos, napalms e baionetas. O que vai para o jornal? O que compõe os livros de História? Quais os assuntos importantes deste nosso mundinho de ovo virado? Guerras, revoluções sangrentas, guilhotinas, atentados, balas perdidas, atropelamentos de motorista doidão, tabefes no filho, tabefes na esposa, forcas, esquartejamentos, sacolejamentos de bebê, o celular atirado na camareira. Espécies várias, todas, de agressão verbo-físico-emocional bombam no YouTube, na nojeira dos tabloides, em qualquer texto distraído de escola. Assim aprendemos o mundo: é uma terrinha danada de hostil. Bobeou, o outro pimba.

Não nego que este terreno entre Vênus e Marte é disputado diariamente na base da ignorância; mas, por isso mesmo, não vejo sentido prático em salivarmos diante da “imprensa” marrom, farejando sangue. Quem pode culpar os repórteres de porta de cadeia se investimos 50 centavos em jornais que não valem uma pataca mofada? Investimos por amar a diversão sádica de dizer – olha que maravilha essa barbaridade que não me aconteceu. Fosse nosso o acontecido, amargaríamos a solidão de virar atração circense por ao menos uma semana. Embora pessoas haja (universitárias de vestido curto e rosa não me deixam mentir) que tenham fetiche nesse chicoteamento público.

Paremos. Paremos com a autoerotização da violência, que não temos boa realidade apenas porque a do outro é pior. Paremos com a chibata de nos julgar tão pouca coisa a ponto de só merecermos (faíscas de) atenção por termos sido youtubados em situação constrangedora. Paremos de lamber com gosto a ferida do mundo. Paremos de cutucar a carne viva porque cometeu a desonra de ainda estar viva, paremos de só morta achá-la fascinante. Paremos de nos nivelar pela altura do doentio, de nos render ao bizarro, de nos vender ao desvio, de nos rebaixar à exceção. Não nascemos para a exceção porque violência não é regra. É pau, é pedra, é o fim do caminho. É o Hades. É o podre, a sobra, o resto, a migalha. É o que nem devia ter começado a ser. É o rejeito não-reciclável. É lixo. É nada. E tem o toque antimidas de transformar em bando de nadas os agentes que lhe prestam serviço.

Violência não é, em termos de produto, porcaria absolutamente nenhuma. Justamente por isso é que contratou uma agência de publicidade melhor.

Nenhum comentário: