segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Paraísos de bolso


Outro dia (mais conhecido como ontem, se muito não me engano) foi o Dia do Inventor no Brasil. Não o celebrei por aqui, e vim agora redimir-me à base de todos os devidos buquês e bombons. Acontece que essa rapaziada inventora ergue boa parte de nossas bem-aventuranças terrenas – e nem vos digo as maiores, tão básicas que já as sentimos pedaço do corpo: ler textos impressos, viajar no subsolo ou nas estratosferas, trocar três dedos de prosa por celular ou e-mail. Falo das felicidades anãs, inesperadas e lindas porque houve um ser humano, neste mundão sem porteira, capaz de ter a gentileza de sarar sofrimentos mirins.

Minha mais recente maior-pequena-descoberta-de-todos-os-tempos foi o spray tirador de limo. Creiam: supermercadeando por mero hábito, o pensamento não se lembrava de conceber que houvesse um produto para além do arco-íris. Meio por falta de vibe, meio por temor de que uns tais líquidos corrosivos estuprassem a cor dos azulejos, nunca pus as fórmulas mágicas no carrinho. Um dia pus. Deu-me o clique final contra aquelas maldições escuras, aqueles mofos repulsivos que tomavam os rejuntes do banheiro, sarcásticos e invencíveis mesmo se um Anderson Silva os torturasse de sapólio e bucha meses a fio. Pois arrisquei, ataquei de tira-limo e em dez minutos vi o nirvana. Não é que a bolorada toda dissolveu-se num olhar boquiaberto? Assombrei-me em definitivo com a facilidade de ser feliz pela mão do engenho alheio. A gente é, em cada bocadinho, semente voada de outras terras .

E tantas pequenas maravilhas. Caneta de quatro cores! quem devo beijar em honra da caneta de quatro cores, que tornou o ato de lançar notas bimestrais – vermelha, azul, vermelha, vermelha, azul – ginástica facinha de um só polegar? Puxador de fecho eclair! quem o gênio que amorosamente ampliou e decorou os puxadores de fecho eclair, fazendo-os um primor de acessíveis à primeira abordagem? Clipes! céus, os clipes! miúdas máquinas do mundo, design prontíssimo a brincar de base ou de anel, de botão ou pregador, de suporte de folhinha ou elo de pulseira, de juntador de bloco ou (s*** happens) puxador de fecho eclair. E os abridores de torcer tampa difícil! E a almofadinha de acolchoar maçaneta rebelde! E os fiapos vermelhitos de rasgar embalagem ranzinza! E os suportes portáteis de papel-toalha! E as pastas coloridamente elásticas! E o braço erguível de cadeira no cinema! E os pedais de lixeirinha! E a espiral do calendário! E as divisórias de bolsa! Corretivo! Quentinha! Pen drive! Cabide! 

O luxo, o supremão do luxo: deixar os filhotes de outras sabedorias lhe frustrarem a onipotência.

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