domingo, 3 de março de 2013

The X factor

Soube dum sujeito (americano, acho) que rompeu com a namorada, e um tempinho depois, ao chegar em casa, deparou-se com lindo espetáculo de histeria pós-fora. A indivídua se vingou onde doía: pegou dum martelo e bam! na coleção inteira de jogos para computador do ex, com requintes de arranhabilidade. Então o moço foi se atirar do Grand Canyon? té parece. Reagiu como qualquer ser humano minimamente razoável reage nestas belas eras – fotografando o estrago e compartilhando na internet, para dividir o pesar de sua desgraça. Deu certo. Teve gente (compungida e irmanada no vício dos joguitos) que deu de fazer doações para o novo enxoval eletrônico do pobre. Abençoada solidariedade a sempre cobrir do básico os desafortunados.   
 
Olha só. Um chute emocional arde mesmo, sem possível consolo que nos assopre, e ninguém está livre de um ou outro ataque de perereca ao ser sumariamente dispensado pelo parceiro. Ataque, que eu digo, assim: coisa digna, pouca; uma choradinha elegante, uma ou duas perguntas de satisfação, as só indispensáveis – e só se absolutamente indispensáveis. Mais do que isso deve ser engolido com batata e farofa para ser libertado, em plena ira de ressentimento, apenas entre quatro paredes vaziíssimas, sem testemunha qualquer do momento hulk que pode e há de passar com o mínimo de ameaça às integridades envolvidas. Findo o luto furioso, todas as reputações ressurgem virgenzinhas, todos podem se olhar e te olhar isentos de ressaca. Que maravilha infalível o autocontrole. Que delícia vestir-se diva (ou galã) para o trabalho e saber que o gostosudo (ou filezuda) da seção vizinha vai te admirar a olheira poética dos amores abandonados, e não pisar macio diante da besta imprevisível que prometeu cozinhar o hamster do/a ex à milanesa. Mesmo quando o mundo acabou, pensar na happy hour de amanhã é preciso.
 
Como é que realmente, lindamente, divamente se recebe o término de uma relação? Sem passar recibo. Sem esmagar a coleção de jogos, sem derramar tinta roxo-indelével no carro, sem despachar o bichinho de estimação para a Lituânia, sem fazer a caveira no blog, sem chorar pitangas e pitombas no sofá da sogra. Se dê ao respeito, criatura: demonstrações de malice ou tresloucura explícita só fazem o chutador de namorada/o abençoar o dia da separação voltado para Meca. Só fazem dar razão ao malfadado que considerou mais livre e leve viver sem você – olha que ousadia. Logo você, que acolheu o the-end com olhos tão abnegados de lady inglesa e ainda teve voz de desejar-lhe felicidades (somente para ver uma franja de arrependimento no meio da surpresa dele). Logo você, que se ajoelhou aos pés da cuja não a implorar uma chance patética, mas a beijar-lhe lancelotemente a mão pelo tempo vivido juntos (somente pra pilhar um remorsozinho suspirante misturado à decisão dela). Logo você, que agora anda por aí numa serenidade de saia rodada, passeando mais linda e mais fresca do que quando presa naquele moinho de ciúmes. Logo você, que agora assumiu seu desejo “irresponsável” de largar o emprego odiento e paira nas calçadas com um bom humor de orelha a orelha. Logo você, quem diria! o mesmo aquele, a mesma aquela que não era ideal, evoluído/a, evoluente o bastante. Baba, baby.
 
(Deixar saudade: única vingança dos fortes.)


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