segunda-feira, 3 de junho de 2013

O bicho

Mas o pessoal de Juazeiro do Norte está certíssimo, gente. Vereador ganhando 10 mil e blá para duas votaçõezinhas na semana e professor esmolando 800 e bocadito para dar um rumo nas cabeças do Brasil – atividade de todos os dias e sempre. Tem mais é que diminuir salário de professor mesmo. Imagina! deixar professor se criar. Deixar comer bem, para todos aqueles nutrientes tão horrivelmente essenciais piorarem a condição pensante do professor. Deixar comprar livro – vade retro: livro! –, para todas aquelas letrinhas tão encadeadas agravarem a mania de ideia do professor. Deixar ter grana pra filho, para mais tarde a gente aturar aí uns eleitorezinhos malcriados atinando com as coisas, herdando opinião de professor. Considera então se professor pilha tempo livre, se consegue abrir mão de uma das cinco escolas e garra o costume de frequentar cinema, beber teatro, dar rolé em museu: é alimentar no quintal a Hidra de Lerna. Se o sujeito arranja período maior (arrepia a medula) para aprofundar conteúdo! se consulta! se estuda!... Ave: quero nem cogitar um desacerto desses. Professor de tititi por aí, muito fagueiramente se desenvolvendo para depois encher cabeça pobre de história. Só faltava essa.

Filho, professor é na rédea curta e salário proporcional ao cabresto. Se der trela, se vier com palhaçada de dar valor presse povo, a alunada percebe e é bem capaz de prestar atenção à aula só de sacanagem. E aí já viu, porque professor tem cisma tenebrosa de ensinar a fazer conta. Agora você conceba um país entregue a 200 milhões de pessoas fazendo conta. E o que petrifica é que é gente de ler entrelinha – t’esconjuro, canhoto! aí danou-se. Professor é bicho tão arrenegado que insiste em industriar a moçada para querer faculdade, podendo essa turminha estar muito sossegada em sua subsistência honesta de 17 bolsas-família. Que é para isso que elas têm útero, ora pitombas. E olha que até do raio das drogas professor fala mal. Prega o apocalipse antizumbi – durma-se com barulho desses! Diacho de raça.

Taí por que a coronelada das antigas botava escravo de uma língua junto com escravo de outra: não haver perrengue. Vê se professor pode se entender com professor. Ia tudo pras cucuias. Se um sozinhamente é cabra matreiro, em bando era o caos. Menos mal que a disputazinha de décimos quartos salários distraia a corja; negócio de amizadice entre professor não presta pra ninguém. Professor bom é professor isolado em seu sem-vergonhismo crítico até o chilique passar. Professor é elefante branco que se educa desde pirralho para ficar amarrado no pauzinho. Professor é o Tiradentes perfeito para enforcamento imediato e midiático. Professor é epidemia pensando que é gente. Professor tem de ser aos poucos substituído pelo Google. Antes que seja visto. Antes que seja tarde. Professor, como diria Drummond, é dangerosíssimo.

Aliás: que Drummond o quê.

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